08 maio, 2008

Neurose e distanciamento de si

Eu vivo num mundo em que ser especial a quem merece nosso respeito é muito menor do que ser bem quisto pelo maior número de pessoas. Mostrar em outdoors somente aquilo que gostariam que vissem em si é muito mais fácil e muito mais gratificante do que apenas ser quem é; afinal, sem querer mostramos quem realmente somos.

O mundo e a evolução da espécie humana mostra que devemos poupar energias para termos mais chances de perpetuarmos a espécie. A preguiça vem daí, mas não é bem isso que quero falar. Digo, é mais cômodo entregar um manual de instruções sobre como conviver conosco e ter um álbum de Orkut com o maior número de fotos. Essas fotos todas filtradas, garimpadas e, se possível, modificadas em photoshop pra aparentar mais saúde, mais beleza e mais... ãm... aquilo que não condiz totalmente com a própria natureza de ser quem se é.

O humano está cada vez mais distante de si mesmo, está cada vez mais artificial e caminhando cada vez mais na direção do superficial. As pessoas não conseguem mais ler um livro até a camada mais profunda daquilo que o autor quis transmitir; o que fica mais claro no número de livros que o Paulo Coelho já conseguiu vender. Vamos pelo lado mais fácil de compreender, sem dar margem ao potencial de criação que cada um de nós podemos projetar quando lemos ou vivenciamos algo.

As “imposições” que o meio social e a imagem que esse meio pede está distanciando cada vez mais da essência de ser humano. Vê-se cada vez mais neuróticos e psicóticos entre a gente. As pessoas não conseguem suportar por muito tempo guardar aquilo que elas têm por dentro. Aí rompe-se com a realidade e começa-se a buscar coisas onde não existem.

Mulheres não conseguem mais aceitar que celulite é algo natural e que o seu peito é pequeno. Tudo por causa dos homens; outros neuróticos. A mulher atraente é aquela que supostamente já acorda linda, maquiada, de chapinha e com a sua Vitor Hugo pendurada no ombro. E vive-se nesse infinito ciclo imbecil de não conseguir aceitar que ser um ser humano é viver de um modo mais leve, menos doentio e que este pode nos mostrar muito mais caminhos; caminhos que deixamos de ver por estarmos preocupados em escolher a blusa que mais vai chamar atenção na balada(uhhh palavrinha que mais me dá nojo).

Enquanto existir essa neurose dentro do humano, enquanto o mundo girar em torno do próprio umbigo e enquanto esse humano não conseguir aceitar que o rosto fica flácido e que a ação da gravidade é mais natural que andar pra frente, a humanidade vai continuar em guerra, mais anoréxicas vão morrer, o planeta será esquecido, todos morreremos afogados, não teremos mais bisnetos e a indústria de cosméticos dominará o mundo.

“Uma pessoa que está mais aberta a todos os elementos de sua experiência orgânica; uma pessoa que está desenvolvendo uma confiança em seu próprio organismo como instrumento de vida sensível; uma pessoa que aceita o foco da avaliação como residindo dentro de si mesmo; uma pessoa que está aprendendo a viver em sua vida como um participante em um processo fluido, continuo, em que está constantemente descobrindo novos aspectos de si mesmo no fluxo de sua experiência. Esses são alguns dos elementos que e parecem estar envolvidos em tornar-se pessoa.” (Carl Rogers, 1995: 140)

http://pt.wikipedia.org/wiki/Carl_rogers

7 comentários:

Unknown disse...

Fazia tempo que eu nao lia nada que concordasse com o que eu penso.
Achei muito valido esse texto e sei que muita gente nao vai concordar com ele ou nao vai se enxergar, sendo que todos fazem um pouco ou muito desses atos.
Nao acredito que seja culpa de ningue'm ate' porque as pessoas geram sua pro'pria ignorancia.
E isso nao e' um pecado, mas devia ser.

Anônimo disse...

Assusta saber que infelizmente alguns anos atrás opções como essas que tu descreveu perfeitamente (principalmente a roupa da balada em conjunto com a palavrinha que da nojo) eram apenas escolhidas por simples comodidade.
Era mais fácil alguém mostrar uma “capa” bonita e cheia mesmo com um interior feio e vazio.

Me enoja um pouco-bastante essa gente que resume pessoas em bundas, seios e vaginas (mesmo achando que velhas tem vaginas e pessoas novas tem aqueles nomes bonitos que homens que eu odeio adoram dizer).
Por um tempo, talvez o mesmo tempo que eles levaram para usar a futilidade como opção, isso apenas era indiferente.
Hoje é repugnante.
Infelizmente não há muita coisa a ser feita além de escrever, comentar ou no caso mais difícil porém mais útil e recompensador, tentar explicar para alguém que a conversa “na balada” vale muito mais que o cabelo, que a roupa ou a maquiagem.
Tentar fazer entender que acordar escabelada, com camisetão, meia e cara de sono, é normal.
É humano.

Ok, dá uma enorme vontade de gritar na balada, mesmo sabendo que ao som da “música-da-moda-que-ninguém-entende-mas-alguém-disse-que-era-boa” não vão te ouvir, reduntantemente “APROXIMEM-SE DE SÍ!”.

Enfim, minha celulite é o que menos me preocupa.
E o medo de sair por aí dividindo isso com quem não merece e sei que nunca vai fazer disso útil, preocupa.
E muito.


E o dia que Paulo Coelho for considerado literatura, eu vou estar lendo apenas Mauricio de Souza.

Anônimo disse...

troxa, tu escreves criticando exatamente a merda que tu és! se mata!

Lu disse...

Sabe que eu estava pensando justamente sobre isso nessa semana. A grande maioria das pessoas está mais preocupada com a aparência e com o que os outros vão pensar do que em fazer aquilo que faz bem pra elas. Penso que a raíz disso é a insegurança.

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Não vou falar nada cliche que nem já li por aí.

Mas...iluminados aqueles que pensam isso e agem de fato como pensam. A grande massa ridicula da população é exatamente isso que tu falou, mas a outra parte que reflete sobre esses assuntos, nem sempre age assim, só falam, só articulam, mas não realizam, fazendo com que essa pequena menoria seja menor ainda.

Luara Quaresma disse...

Me vi em anguns angulos assim dizer no seu texto, talvez mediocre o suficiente, creio que não precisamos dispor de nada, não fingir que isto tudo nao é uma grande MERDA, sendo nós ou não. Nunca consegui lidar com o coletivo.

O fato é que voce escreve intessamente bem *: