24 novembro, 2009

Os Poetas


Não é de dor que vive um poeta, nem de simples devaneios. Eles buscam algo dentro de si, muitas vezes sem saber o que é. Atropelam a si mesmos, montam e desmontam os próprios personagens infantis. Gostam da tragédia que é chegar ao fim de um sofrimento, logo embarcando num avião. Mal sabem que não é em um aeroporto que se embarca, mas ainda assim navegam sem ter em mãos uma bússola ou um mapa náutico.

Acreditam cegamente na vida e negam a existência de Deus como se fossem o próprio Deus. Negam a si mesmos, derrotam personagens, vangloriam outros e assinam com pseudônimos, que é pra não assumir os latrocínios. Usam as metáforas, fogem do concreto e acham que o frio é o que esquenta a poltrona onde se assentam. Os fundilhos sempre caídos que é pra parecer que ali moram colhões fartos. São românticos e sádicos com as moçoilas de idade mediana.

Traem os pais, as mulheres, filhos e a própria escrivaninha, sempre voltando de madrugada após a reunião com a confraria dos raros. Olham pro nada e veem tudo, olham pro tudo e veem nada. No almoço fazem janta, no jantar almoçam e fazem o café das cinco; são livres. São presidiários de si mesmos, trancafiados, submissos no destino que todos fazem de conta que não existe.

Poucos se perdem porque muitos se acham antes do ponto final. As vírgulas são as separações necessárias, mas esquecem que elas são inseparáveis deles; vivem sempre achando que são o que sentem, esquecendo que são o que são no agora. Não existe passado nem futuro, tampouco presente pra um poeta. O presente é o mundo que eles mesmos controem. Levantam trincheiras, fazem do Diabo a sabedoria e juram morrer pelo fruto da ciência em achar-se poeta.

Ser poeta pra eles é buscar o platônico, inalcansável, ter sede de tudo, não abandonar o ventre materno em prol da boa escrita. Eles trazem o cuidado e a maestria que é o viver entre as palavras. Uns amam os outros fazendo do ódio só mais um tema de poesia. Preferem morrer a viver por um livro que escreveram supostamente por engano.

Os enganos é que fazem um poeta. O que sobra de cada escrito é o que eles irão carregar até o túmulo; porque o que faz um bom poeta são as sobras do sofrimento e não o dito nas linhas do pensamento marcado no papel.

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