10 janeiro, 2011

Liberdade: Infinita e Responsável

A paz não é sinônimo de viver bem nem suficiente para encontrar o que precisamos. Da nossa vida o maior e único responsável somos nós mesmos. O que ocorre frequentemente é que tentamos fugir ou diminuir nosso compromisso eterno com nós mesmos. O caminho (não digo mais fácil) é o de projetar a responsabilidade de mudar os meios e nós mesmos naquilo/naquele que está fora de nós.

O mito de Adão e Eva é o caso clássico que, por um lado, é até cômico ao exemplificar uma das maiores mediocridades do ser humano. Após a sedução sobre o se alimentar daquilo que o homem tanto deseja (a Verdade e a Ciência) sem ter despendido energia, sem méritos, aponta para Eva e tenta se eximir da responsabilidade de ter cometido o Pecado Original; constitui agora dois pecados: O de ter sido levado pela sedução, pela vaidade que é conhecer toda a Verdade e toda Ciência sem os devidos esforços e pior: Apontar aquela que já havia pecado e tentar colocar mais um fardo sobre as suas costas (o pecado cometido por si). Friso o verbo tentar por entender que não passa de tentativa, pois nunca alguém legitimamente eximirá da responsabilidade e possível culpa sobre sua própria ação ou intenção coagindo por meios inferiores tentando censurar e constranger o outro.

Mas e se a vontade sobre a minha vida é dirigida por Deus, esse ser Supremo, Justo e Bom? Deus como, sendo justo, não dar-nos-ia o fardo que não pudéssemos suportar, tampouco tiraria do ser humano o livre arbítrio e a responsabilidade de se posicionar diante das coisas que a vida nos apresenta; é daí que existe o mérito na evolução: a partir da escolha e labor. Qual seria o sentido de viver se fôssemos meros joguetes do acaso ou de outro Ser extra-nós? A vida nos impõe e até nos ataca, muitas vezes nos trancafia e, de certa forma, perdemos um dose grande de liberdade, seja ela física, psicológica ou espiritual, mas não perdemos a totalidade da liberdade seja qual for a situação ou imposição da vida. Exemplos de liberdade não nos faltam, mas o ser humano insiste acreditar no niilismo a ponto de dizer que nascemos ao acaso, vivemos ao acaso, somos obreiros do acaso, a vida é incerta, somos totalmente condicionados pelo meio e não fomos nem seremos livres. O niilismo mora sobre o nada e o nada nada provem.

Aquele que escolhe é livre (e responsável) pelo fato de ninguém, além dele, poder escolher por ele de forma legítima.

Para toda coerção existe a possibilidade de reação (resposta) que não pode ser dada por ninguém além da pessoa que sofre a ação (força); portanto, a partir desse ponto já temos a liberdade de emitirmos uma resposta e por ela sermos totalmente responsáveis, ou ainda agirmos passivamente, porque o ser humano é tão livre para reagir como para deixar-se de lado. Se a vida nos dá problemas de saúde e passamos a sofrer com dificuldades que, por ventura, nos privam de alguns (ou todos) movimentos do corpo, a alma ainda continua livre. O corpo é o meio que a alma se utiliza para se expressar. Tomemos o exemplo de paraplégicos que, dentro das suas limitações do orgânico, passam a utilizar (e até criar novos) meios para expressar suas vontades, inclusive a de pedir ajuda, trabalhar para obter o sustento do corpo atingido e inclusive ajudar outras pessoas com o mesmo problema. Os presos nos campos de concentração passavam pelas piores condições climáticas, de nutrição, estresse mental e por toda sorte de doenças infecciosas. Os guardas mantinham suas cabeças sob suas armas e entre as cercas, os corpos se amontoavam em cobertores medindo 2x2m num frio de -20°C, a nutrição consistia em uma única refeição por dia onde era servido somente sopa rasa e um pão, os parasitas eram as pestes, além dos infinitos males da alma; sendo esses últimos fatores os preponderantes para manter-se vivo ou ater-se ao niilismo. Muitos iam para o "fio" e outros tantos permaneciam vivos. Entre o permanecer vivo e ir para o fio (correr e atirar-se nas cercas eletrificadas, causando o suicídio) existe a decisão; faculdade humana que dá o caminho e legitima a existência. Segundo o existencialismo: Só vive realmente aquele que decide e escolhe o que fazer e quem ser.

Sendo assim, volto à reflexão: Se somente eu posso escolher quem ser e o que fazer, posso eu me julgar não livre e não responsável já que ninguém além de mim pode ser eu ou escolher por mim? Aquele que faz suas próprias leis (através da escolha e decisão), mediadas pela razão, no silencio das paixões, sendo tocado pela moral (leis da liberdade) e a ética (leis com base em um motivo e um dever moral) é um indivíduo essencialmente livre e responsável por suas leis sob os aspectos – inclusive - jurídicos que suas ações podem causar. Sofrer uma penalidade advinda de uma ação é somente um efeito, não a causa; penalidade é o efeito jurídico como consequencia de um ato julgado. Segundo Kant, "Qualquer ação é justa se for capaz de coexistir com a liberdade de todos de acordo com uma lei universal, ou se na sua máxima a liberdade de escolha de cada um puder coexistir com a liberdade de todos de acordo com uma lei universal".

Aquele que escolhe sua lei é seu senhor e é livre. A coerção e a influência não passam de coerção e influência, não constituindo, de forma alguma, a raiz, causa da minha ação. Levando em conta que todo efeito inteligente tem por base uma causa inteligente, não posso conceber coerção e influência como sendo sempre inteligentes tampouco dignos ou legítimos. O que não é digno nem legítimo para a vida humana não é válido nem salutar.

Talvez sejamos eternamente obrigados a viver e até sofrer, mas somos livres e responsáveis por escolher como viver e se posicionar diante da vida e do sofrimento.

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