21 dezembro, 2009

Não sentimos mais?



Às vezes falta motivo pra entristecer, ficar de cara fechada contra o mundo, uma bênção que trouxesse as lágrimas. Vejo em minha frente o fim do mundo e não fico triste com isso. As tragédias acontecem sem causar nada além de um olhar na direção do estrondo. Acho que eu e as pessoas se calejaram.

É de suspeitar aquele que diz que nunca olhou para o lado e não se apavorou com o que presencia. Mas de tanto que vê, a sensação é que nada mais é novidade. A frase "morro e não vejo tudo" é cada vez menos proferida, tamanho é o estado em que as coisas se encontram. Freud diria que são mecanismos de defesa do ego como negação, sublimação, projeção, etc. O sofrimento ou uma intensidade de angústia imensa tem de ser realmente fortíssima pra tocar alguém, e esse tocar fazer com que o "tocado" faça algo pelo outro.

Há uma mistura de catástrofe com um niilismo -há um tempo atrás escrevi sobre a
Retroalimentação Niilista,termo criado por mim, porém não é aqui que aprofundarei-. Vemos a catástrofe e pensamos: "não adianta nada" ou "já não basta os meus problemas, vou cuidar dos outros agora?!". O pior caso não são estes dois exemplos; é de não sentir ou, mesmo tentando, não conseguir ter ao menos uma sensação diante das coisas.

Há uma disparidade, uma dissociação, uma "impunidade afetiva" frente ao que acontece. Particularmente, não sei onde eu, as pessoas, os grupos, a sociedade e a humanidade vão chegar ou não conseguir chegar.

Ainda me restam sentimentos: um deles é o de preocupação sobre o que sentir.



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