17 fevereiro, 2011

Homens-Anfíbios


Há muitos que creem ser o medo o motor da espécie humana, o sentido para alguns existencialistas, o desejo libidinal para os freudianos ortodoxos e o desespero para quem lê qualquer livro onde o personagem se deparou sobre si mesmo, Deus e a vida.

O medo vem, arrebata e faz as pernas tremerem causando um “terremoto vivencial”. As cidades vão ao chão, prédios caem sobre os outros e isso não acontece diferentemente nos homens; eles cometem suicídio através do corpo, da alma e moral (atrelado à alma); caindo, também atingem os próximos e estremecem um círculo por medidas de tempo variáveis, mas duras e cheias de lágrimas.

Mover-se através do sentido é farejar sem a necessidade de nenhum órgão material, é a vida indagando e puxando. Alguns escolhem parar, ali ficar, evitando as respostas. “Eu não espero nada da vida”, mas “quem sabe é a vida que esteja esperando algo de ti”.

Enxergar o ser humano com a lente “filtradora” da libido sexual não é vulgarmente reduzir ao estado de animal-coisa; é enganar-se e beber do próprio veneno. Pode-se dizer que reduzir o ser humano as vivências infantis e aos seus mecanismos narcisistas é um bom indicativo de projeção (mecanismo de defesa) do vazio de quem organizou esses pressupostos; colocando não somente sobre um indivíduo, mas de toda humanidade. Somos, sim, movidos por instintos, conteúdos inconscientes, dando vazão às fixações e conflitos edípicos, porém, não e tão somente podemos ser “desvendados” e vivenciados através de um passado que não existe mais porque, aliás, quem vive, vive no presente.

Somos os personagens da própria trama onde o escritor somos nós, agindo sobre si, tendo fé ou não em Deus e sendo os únicos responsáveis diante e na vida. Comumente o nosso desespero é projetado (o veneno) no meio social, nas organizações, nos pais, servindo de fuga daquilo que trazemos no peito, na alma. “O corpo fala”, não?! Quando a alma não dá conta, ou quando a negamos, o corpo trata de fazer o seu trabalho de sinalizar. Por estarmos mais preocupados com a carne e os seus prazeres (vontade de prazer e fuga do desprazer) é o corpo que a alma utiliza como sinalizador do desespero. Se não paramos, investimos atenção à alma e refletimos, o corpo trata de paralisar através das doenças – muito estudadas pela psicossomática. Que desespero é esse?

Quando mergulhamos em nosso Rio, rumo ao profundo do Eu, encontramos o desespero. Isso causa o medo. Temos medo de ter medo. Medo de descobrir o próprio Eu e assim desesperar em cliclos eternos – de mergulhar, se afogar, desesperar por descobrir, estar se afogando e não conseguir abrir os olhos apontando a superfície, alguns preferindo o afogamento. O homem é anfíbio. Precisa do ambiente mais denso e difícil de submergir - ele nasceu para isso e os órgãos do espírito estão todos a postos. Ele pode escolher mergulhar, encontrar o alimento para a própria vida, desafiar o desespero, encontrar a fé e Deus dentro de si, descobrir quem se é e voltar para a terra. Muito répteis ainda não saíram da casca existencial; estão sob a terra.

Aos corajosos e fortes de espírito a vida trata de assegurar sua sobrevivência enquanto submersos e sobre a terra. Cabe ao Homem-Anfíbio encontrar as profundezas, mas avistar no horizonte o que o próprio Eu-Leito não pode conceder; o sentido para onde caminhar, novos desesperos a superar, novos perfis do rosto de Deus e muito outros Rios a se banhar.

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