20 fevereiro, 2011

Do niilismo

"Suponhamos que, por uma circunstância qualquer, todo um povo adquirisse a certeza de que, em oito dias, em um mês, em um ano se se quer, ele será aniquilado, e nenhum indivíduo sobreviverá, que não restará marca nenhuma de si mesmo depois da morte; que fará durante este tempo? Trabalhará pelo ser melhoramento, pela sua instrução? Se entregará ao trabalho para viver? Respeitará os direitos, os bens, a vida dos seus semelhantes? Submeter-se-á às leis, a uma autoridade, qualquer que seja, mesmo a mais legítima: a autoridade paterna? Terá para si um dever qualquer? Seguramente não.

Pois bem! O que não se alcança em massa, a doutrina do niilismo o realiza, cada dia, isoladamente. Se as conseqüências disso não são tão desastrosas quanto poderiam ser, é primeiro porque, entre a maioria dos incrédulos, há mais fanfarrice do que verdadeira incredulidade, mais dúvida do que convicção, e porque tem mais medo do nada do que procuram aparentar: o título de espírito forte lisongeia-lhes o amor-próprio; em segundo lugar, porque os incrédulos são uma ínfima minoria; sentem, malgrado eles, ascendência da opinião contrária e são mantidos por uma força material; mas, se a incredulidade absoluta se tornar um dia a opinião da maioria, a sociedade estará em dissolução. É ao que tende a propagação da doutrina do niilismo."

Allan Kardec

2 comentários:

Estevan disse...

O nada revela a preocupação com o que virá. Diante do futuro nosso medo maior é não o te-lo. O que abre a porta para a existência é esse trampolim que estamos envolvidos.
O restante dessa poética é o cotidiano, nossa ficção autoral mais sublime e menos cuidada.

Ivan Pielke disse...

Sartre jogou a merda no ventilador e saiu correndo.
Não acreditar em algo não é sinônimo de que ela não exista. O ser humano viver no nada pode até ser, mas vir do nada, desejar nada e ir pra lugar algum é típico do humano fatalista que tem pelo escândalo o maior objeto de prazer.